Uma cana-de-açúcar geneticamente modificada libera
proteína com propriedade inseticida quando atacada pela broca-da-cana,
praga bastante presente nos canaviais do Brasil e que registra um
prejuízo anual de, aproximadamente, US$ 500 milhões
aos produtores agrícolas.
Através dessa descoberta, que poderá reduzir o problema
no futuro, desenvolveu-se uma planta que se defende de um tipo de
broca apenas quando atacada. O estudo é realizado no Laboratório
de Biologia Molecular de Plantas do departamento de Genética
da Esalq.
As pesquisas resultaram no desenvolvimento de uma planta que
percebe que está sendo atacado pelo inseto e libera proteínas
inseticidas para conseguir se defender, afirma o professor
Márcio de Castro Silva Filho, coordenador da equipe de cientistas
envolvidos no projeto.
O ciclo da broca tem início no campo, onde um inseto penetra
no interior da planta e cava galerias internas, provocando a diminuição
da massa vegetal da cana-de-açúcar e, conseqüentemente,
causando graves perdas tanto na produção de açúcar
e álcool.
Os orifícios perfurados pela praga permitem a entrada de
fungos oportunistas que causam doenças, como, a podridão
vermelha. Além disso, no caso da produção de
álcool, os microorganismos podem contaminar o caldo e concorrem
com as leveduras na fermentação.
Desde o início o objetivo era identificar na cana genes que
só eram ativados quando a planta era atacada pela broca.
Após oito anos de estudo, os pesquisadores descobriram o
promotor (seqüência de DNA queativa o gene, reagindo
no momento em que há necessidade) que controla o procedimento
de defesa do gene, vindo a ser batizado de sugarina.
O promotor da sugarina tem um grande potencial biotecnológico,
onde a planta que não é atacada pelo inseto se mantém
como uma planta convencional, que não passou por nenhuma
modificação genética. Diferente das variedades
de milho e algodão transgênicos resistentes a insetos.
Essas plantas produzem uma toxina, derivada de um gene bacteriano,
durante todo o ciclo da planta, mesmo se não estiver sendo
atacada, explica o professor.
A diferença da cana resultante dessa pesquisa de outras plantas
transgênicas foi comprovada em várias simulações
que avaliaram o momento em que o sistema de defesa se expressa.
Ferir a planta com um corte foi uma das alternativas testadas.Em
situações normais, a planta ativa seu mecanismo de
defesa, explica o professor.
Porém, a cana geneticamente modificada respondeu apenas
ao ataque da praga da broca. Resta saber como a planta interpreta,
de maneira diferente, o ataque de um inseto de um outro tipo de
agressão, conclui. A possibilidade da saliva do inseto
ativar a expressão dos genes é uma das hipóteses
levantadas.
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