A recente inauguração da Usina Termelétrica
Pioneiros, em Sud Mennucci (SP), apresentou ao mundo a maior marca
mundial de produção de energia por tonelada de bagaço
de cana a produção alcança até
120 KWh por tonelada de cana moída, quase o dobro da média
obtida pelas centrais elétricas das unidades brasileiras,
que registram entre 60 a 70 KWh/tc.
O incremento conquistado pela Pioneiros deriva de investimentos
em tecnologias modernas que oferecem maior aproveitamento térmico
na unidade cogeradora por meio da elevação da pressão
no processo industrial da usina. Mas o principal diferencial competitivo
é a economia do vapor na moagem, benefício proporcionado
pela eletrificação completa da instalação.
O processo de preparo e moagem de cana, antes acionado por turbinas,
foi completamente substituído por motores elétricos.
Os seis ternos da moenda estão equipados com motores individuais
de 900 cv de potência cada um. Com o sistema 100% eletrificado,
o vapor é melhor aproveitado em uma turbina de alta eficiência
térmica, aumentando a quantidade de insumo disponível
para a geração de energia elétrica, explica
o coordenador do projeto da UTE Pioneiros, Luiz Gustavo Scartezini
Rodrigues.
A possibilidade de ganhos de eficiência pode catapultar a
ainda tímida aplicação de motores elétricos
como acionamento de moendas no setor sucroalcooleiro nacional. Casos
de eletrificação completa, embora despertem interesse
nos projetos de novas unidades, estão presentes em menos
de uma dezena de usinas brasileiras.
Com 90% de domínio de mercado atualmente, o acionamento que
monopoliza as aplicações no setor é formado
pelo conjunto entre a turbina vapor + turbo redutor + redutor de
baixa ou engrenagens abertas. Alternativa usada desde os anos 70,
prevaleceu devido ao baixo preço na época e à
falta de tecnologias concorrentes. As técnicas de acionamento
elétrico disponíveis eram muito caras e não
havia incentivo para aumentar eficiência do balanço,
acredita o consultor Domingos de Abreu, diretor da Nukleon Sistemas
de Engenharia Elétrica.
A aplicação de turbinas de simples ou múltiplos
estágios apresenta, porém, limitação
para o aumento de eficiência no processo de transformação
de energia térmica em elétrica. A atratividade para
a venda de energia, que pode se consolidar definitivamente como
terceiro produto das usinas, demanda equipamentos mais eficientes
e abre mercado para o motor elétrico.
Viabilidade econômica recente
A tecnologia de eletrificação, entretanto, não
é nova no mercado. Os primeiros equipamentos em usinas surgiram
na década de 90, quando máquinas foram instaladas
no equipamento de preparo da moenda. Por limitações
em suas características, o uso do motor ficou restrito a
esta aplicação. O motor não tem controle
de rotação, o que dificultava o uso da moenda, que
precisa de variação de velocidade na alimentação
do processo. No sistema de preparo, a velocidade é fixa,
esclarece o consultor Paulo Delfini.
No início dos anos 2000, a redução de custos
do inversor de freqüência equipamento capaz de
regular a velocidade - ofereceu viabilidade econômica para
aplicação do motor em moendas, situação
que coincidiu com a crise energética no Brasil.
Os riscos de apagão evidenciaram a energia gerada via biomassa
como um produto rentável. Interessadas neste novo nicho,
as usinas, que precisavam apenas de 5 a 7 MW para consumo próprio,
passaram a investir em equipamentos de pressões maiores para
aumentar a cogeração.
OUTRAS VANTAGENS
Além da questão do aumento da eficiência, existem
ainda outros benefícios na eletrificação do
preparo e moagem de cana, o que pode tornar a eletrificação
vantajosa mesmo quando não houver geração e/ou
venda de energia:
Ambiente limpo devido à ausência de tubulações;
Não há vazamento de vapor;
Eliminação das juntas e excesso de graxa;
Acionamento individual para cada moenda permitindo monitoramento
em tempo real através de supervisórios;
Versatilidade de regulagem da velocidade da moenda com mais
rapidez e precisão mantendo o torque constante;
Possibilidade de variar a velocidade de cada rolo separadamente
(sistema Power plus);
Maior facilidade no arranque e parada da moenda no caso de
algum elemento estranho entrar no rolo (ferro, por exemplo);
Possibilidade de inversão da rotação,
permitindo o destravamento da moenda em caso de embuchamento;
Manutenção simples e reduzida;
Normalmente existe apenas um redutor intermediário
entre o motor e a moenda otimizando o espaço;
Menor ruído na instalação em relação
às turbinas;
Amortização do custo em função
da necessidade de manutenção anual nas turbinas.
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