Edição 91 de Abril de 2005
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Guerra contra as bactérias
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Ao investir em capacitação
profissional, novos equipamentos e integração de setores
internos, usinas demonstram como obter níveis de contaminação
nunca vistos antes no processo de fermentação. |
Bactérias: maior mal da fermentação
hoje |
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A Destilaria Debrasa, Energética Brasilândia,
empresa do Grupo José Pessoa, terminou a última safra
com o menor índice médio de contaminação
bacteriana na fermentação entre todas as oito usinas
em operação que compõem o conglomerado: 106 bast./ml,
nível considerado mínimo para a prevenção
de perdas e obtenção de ganhos de rendimentos durante
o processo de fabricação de álcool.
O registro de índices como este é um avanço enorme
para um setor que, há apenas oito anos, verificava a contaminação
média da fermentação entre 107 e 108 bast./ml.
Este nível representava 89% a 90% de rendimento hoje
usinas com desempenho semelhante ao da Debrasa já atingem de
90% a 91%. Isso já proporciona um retorno financeiro
muito significativo, calcula o coordenador de processo e microbiologia
da Fermentec, Alexandre Godoy.
A conquista, porém, não foi um processo natural. Demandou
a execução de um planejamento que primou por melhorias
em diversos setores da usina, desde as características microbiológicas
da cana até a maior capacitação de técnicos
e colaboradores, passando também por aquisição
de novos equipamentos na indústria, rastreamento dos pontos
de contaminação, controle adequado de temperatura e
uso racional de antibióticos eficientes.
A inclusão destes procedimentos permitiu progressos ainda mais
consideráveis para algumas usinas, que registraram níveis
médios de contaminação antes só vistos
na fase de multiplicação de levedos, que ocorre nos
primeiros dias de fermentação. Na MB, de Morro Agudo
(SP), foi observado índice de 105 bast./ml durante a temporada
2004/05. Este número foi resultado de um trabalho seríssimo,
melhoria contínua em todo processo, revela o supervisor
de destilaria da MB, Marcelo Siebert.
Embora dignos de loas, casos como o da MB ainda são praticamente
únicos no setor sucroalcooleiro. Além da unidade, apenas
a usina Ipiranga-Descalvado conseguiu feito semelhante. No Brasil,
a carga microbiana tem encontrado condições extremamente
favoráveis na fermentação, onde justamente causam
os principais problemas, declara Godoy.
O ambiente propício para a ação das bactérias
deriva da grande dificuldade encontrada pelas usinas para operar com
um mosto esterilizado, o que ocorre em parte devido às próprias
características da cana. Quando a matéria-prima
é ruim, porque deteriorou no campo, a composição
do caldo é alterada e conterá muito mais ácido
lático e dextrana, explica o gestor de P&D do CTC,
Jaime Finguerut. |
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A contaminação bacteriana também
se prolifera devido a condições operacionais da própria
usina: sistema de moagem, tratamento térmico muitas vezes ineficiente,
pontos mortos no processo, contaminação pelos trocadores
de calor, tubulações e caixa de caldo, água utilizada
na diluição do levedo, assepsia das dornas e paradas
na indústria. Há necessidade de investimentos
em equipamentos, mas hoje ainda não existe uma conscientização
plena. Ainda se busca principalmente quantidade de produção,
mais unidade por produtividade, testemunha a coordenadora corporativa
de CQPI (Controle de Qualidade e Processos Industriais) do Grupo José
Pessoa, Ana Maria do Lago.
A própria preocupação com a melhoria da eficiência
do processo de fermentação é recente. Antes do
Proálcool (Programa Nacional do Álcool), lançado
na década de 70, informa o presidente da Fermentec, Henrique
Amorim, este era um assunto secundário nas usinas. O
álcool era pouco rentável economicamente, não
se justificava, até então, efetuar investimentos em
pesquisa e tecnologia na área, lembra.
Se hoje há tecnologias, falta conscientização
ou sobra negligência em muitas usinas e os prejuízos
podem ser exorbitantes. As bactérias podem dobrar a contaminação
em apenas 28 minutos. Além de cercear a produção
de álcool, a infecção descontrolada ainda exige
aplicação exagerada de antibióticos, que custam,
por quilo, US$ 200 até 10 quilos podem ser usados por
dia para controle do problema.
A Fermentec calcula que uma usina com capacidade de produção
de 500 mil/ m3/dia economiza aproximadamente R$ 1 milhão por
safra a estimativa considera o preço do litro de álcool
a R$ 1. Mas só vai conseguir atingir estes números
quem investir e monitorar adequadamente o processo de fermentação,
o que exige muito esforço, frisa Godoy.
Integração industrial-agrícola
Baixos níveis de contaminação demandam são,
porém, metas de difícil alcance, exigem que todos os
setores indústria, agrícola e laboratório
-sejam eficientes e atuem em conjunto. A usina também precisa
disponibilizar recursos para investimentos em equipamentos necessários,
principalmente aparelhos para capacidade de resfriamento e limpeza
de dornas. A assepsia é fundamental e alguns sistemas
de limpeza são caros, chegam a ser até automatizados,
destaca Ana Maria.
Na MB, Siebert, aponta três fatores como determinantes para
o sucesso do procedimento: equipe eficiente; a manutenção
da temperatura da fermentação a níveis inferiores
a 33,3ºC; e o monitoramento constante da operação.
O rastreamento é realizado em todas as fases do processo, a
partir da matéria-prima, passando por setor de extração,
tratamento térmico, decantação, resfriamento
e distribuição de mosto e finalmente na fermentação.
Com os dados fornecidos pelo controle microbiológico, a usina
consegue planejar ações preventivas. Começamos
o tratamento no início do processo, não deixamos a contaminação
subir. Acreditamos que, quando combatemos o exército inteiro
de bactérias, há mais chance de haver sobreviventes.
Não deixamos este exército se formar, conta Siebert.
Mas os resultados desta ação dependem também
que a indústria se prepare para processar adequadamente a matéria-prima
deacordo com as suas características de qualidade. Ou
seja, que a usina realize mudanças no processo para amenizar
as variações da qualidade da cana e assim reduzir o
impacto na indústria e manter elevado o rendimento, completa
Amorim.
Mas o ideal, alerta Ana Maria, é o abastecimento da indústria
com matéria-prima de qualidade. É preciso que
a cana chegue nova, isenta de matéria orgânica, com baixa
infestação de broca. Também é imprescindível
a redução do tempo de queima, que não pode ultrapassar
36 horas.
Capacitação profissional
A adaptação da equipe às evoluções
recentes vistas na parte agrícola também interfere na
produção da cana limpa. Crescimento da colheita mecânica,
surgimento de novas metodologias em tratos culturais, incidência
de pragas exigem profissionais capacitados. Se não houver
interação perfeita entre a área agrícola
e a industrial, o processo será comprometido, destaca
Ana Maria.
Para conseguir este resultado, Amorim acredita que o caminho é
investir em treinamentos. Entendemos que, se conseguirmos melhorar
o nível do pessoal que trabalha nas usinas, mais rápido
eles vão adotar novas tecnologias e compreenderem melhor o
processo.
O empreendimento, entretanto, não é uma tarefa fácil.
Na Destilaria Debrasa, além dos programas de treinamento e
capacitação, os colaboradores são estimulados
com recursos extras de bonificação e Programa de Participação
nos Resultados. Precisamos de comprometimento, diz a coordenadora
corporativa.
Procedimentos semelhantes imperam na MB, que investiu em um sistema
de logística rápida para entregar a cana na indústria
em tempo hábil. Temos uma parceria muito consistente
entre as áreas agrícola e industrial, confirma
Siebert. A usina comemora os resultados: manutenção
de elevada viabilidade celular, baixa acidez produzida na fermentação,
baixa produção de glicerol, alto teor alcoólico
do vinho, baixo consumo de antibióticos e ácido sulfúrico.
Tudo isso junto é responsável por rendimentos
fermentativos ao redor de 92,5%,conclui. |
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