Especial - Edição 312 da Revista Petro & Química
Sem parar
A revisão do plano de negócios tomou mais tempo do que os engenheiros e economistas da Petrobras estimavam. E pelos próximos meses tomará a agenda da diretoria executiva – que já iniciou um roadshow internacional para apresentá-lo a investidores, fornecedores e governos. O primeiro a conhecer o Plano de Negócios 2009-2013 foi o presidente Lula – que participou da reunião do Conselho de Administração em que presidente da companhia, José Sergio Gabrielli, apresentou a nova lista de empreendimentos e o volume de investimentos.
Stéferson Faria / Agência Petrobras

Os recursos que a empresa pretende investir nos próximos cinco anos – US$ 174 bilhões – superam não só sua meta de investimentos previstos entre 2008 e 2012, mas também os que outras petroleiras planejam. É só tomar como medida a Exxon, maior companhia do setor, que prevê investir cerca de US$ 100 bilhões entre 2009 e 2012.
Anunciado em meio à maior crise econômica global das últimas sete décadas, o tal plano foi a notícia que a cadeia fornecedora esperava ouvir. “O programa de investimentos da Petrobras vai, sem dúvida, ter um papel anti-cíclico. Esses investimentos vão ajudar a manter ativada a economia, em particular o segmento fornecedor”, analisa o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, Carlos Pastoriza.

O plano somou US$ 111,2 bilhões dos investimentos já previstos a US$ 47,9 bilhões dos novos projetos. US$ 17 bilhões se referem a aumento de custos, e US$ 2,9 bilhões dizem respeito a alteração na taxa de câmbio. Outros US$ 3,4 bilhões estão relacionados a evolução na definição dos projetos. US$ 8,1 bilhões em mudanças em modelos de negócios e alterações de cronograma já foram subtraídos do orçamento.

Arrojado, ambicioso ou inexeqüível, o plano é estratégico não só para a Petrobras, mas para 26.611 empresas – 97% delas instaladas em território nacional – que de alguma forma dependem das suas encomendas. Também assegura a manutenção de um milhão de postos de trabalho. Mas Gabrielli nega que houve ingerência do Governo Federal. “Não foi uma decisão política. Mas evidente que isso também é de interesse do Governo – o que é muito bom quando o controlador tem interesses convergentes com a empresa”. (por Flávio Bosco)

Petrobras quer baratear custo dos projetos
Investimento bilionário anunciado pela Petrobras supera todos os planos previstos no setor – e mantém ativa a cadeia de fornecedores. Companhia adianta que não quer gastar todos os US$ 174 bilhões orçados para mais de 500 projetos
Ricardo Stuckert / PR
Lula participa da reunião do Conselho de Administração em que José Sergio Gabrielli apresentou o plano

Selecionar o portfólio de projetos foi apenas um dos desafios dos técnicos da Petrobras. O trabalho agora será atrair recursos para financiar todo o investimento. Em meio a restrição do mercado financeiro, a estratégia incluirá a própria geração de caixa, empréstimos do BNDES e até a garantia de fornecimento de petróleo aos países credores. Gabrielli afirma que esses potenciais consumidores estão sendo vistos como alternativa em virtude dessa nova realidade de mercado. “Alguns países consideram isso como um valor estratégico, e podem estar dispostos a discutir possibilidades de financiamento”.

A ordem, no entanto, é apertar os fornecedores – “sem matar”, como ressalta Gabrielli – atrás de baratear os custos. O plano de investimentos foi orçado durante um período de euforia, em que os preços do barril ultrapassavam a casa dos US$ 100, com reflexo imediato na demanda por materiais e serviços. Agora a retração da demanda, associada a queda nos preços do aço, irá puxar para baixo os custos e prazos de fornecimento – fabricantes que demoravam 1500 dias para produzir um equipamento já estão entregando em metade desse tempo.

A lista de compras é grande: 8 mil bombas, 700 compressores, 280 reatores, 500 geradores, e 940 mil toneladas de aço estrutural – para cascos de plataformas e navios. Combustível suficiente para não deixar a cadeia de fornecedores desacelerar frente à crise global.
Por conta dos altos preços, a Petrobras chegou a cancelar o processo de licitação das plataformas P-61 e P-63 e de quatro módulos da Refinaria do Nordeste, e partiu para negociação direta com os fabricantes.

“Essa redução vai ocorrer de maneira paulatina – porque ninguém sabe muito bem qual será duração da crise e os efeitos reais nos custos e no preço do petróleo. Agora para os projetos em andamento será complicado renegociar os preços, porque as empresas já compraram os equipamentos e contrataram a mão-de-obra”, adverte o presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial, Carlos Maurício de Paula Barros.

O diretor da Área Financeira da Petrobras, Almir Barbassa, lembra que a companhia trabalha na formação de dois fundos de direito creditório, com carteira de R$ 1 bilhão, específico para fornecedores que tenham contratos não performados – para os grandes contratos, a companhia tem optado por prazos que vão de cinco a dez anos, facilitando a vida daquelas empresas que precisam financiar a construção de oficinas.

Iniciativas como a simplificação das exigências técnicas e a flexibilização dos contratos também deverão se refletir nos custos. Os novos projetos de plataformas e refinarias serão concebidos de forma diferente, com redução dos pacotes e uniformização dos pacotes – o que, por um lado, exigirá um esforço maior da Petrobras para gerenciar a interface com todos os fornecedores, mas abre a concorrência a um número maior de fornecedores.

Daqui a cinco anos a produção da Petrobras estará na marca dos 3.655 mil barris de óleo equivalente por dia – um crescimento de 1.255 mil boe/d, o que significa um aumento médio anual de 8,8%. Nesse período começam a entrar em operação as novas refinarias – do Nordeste e Comperj – que adicionam 500 mil barris diários à capacidade de refino da companhia.

Só para este ano, o volume de investimentos já deve ser 15% maior do que o realizado em 2008: no ano passado a Petrobras investiu R$ 53,4 bilhões, e para 2009 estão previstos R$ 60 bilhões – quando a geração de caixa deve chegar a US$ 10 bilhões caso o preço do barril de petróleo feche o ano em US$ 37. O maior volume de recursos será aportada mesmo a partir de 2010, quando a Petrobras prevê o barril na casa dos US$ 40 – subindo a US$ 45 de 2011 a 2013. Para cada dolar adicionado à cotação do barril, o caixa da Petrobras cresce R$ 500 milhões.

Desenvolvimento do pré-sal recebe US$ 28 bilhões

Ao anunciar tal volume de investimentos em seu plano de negócios, a Petrobras deixou claro que é estratégico desenvolver os mega-reservatórios abaixo da camada de sal e apesar da crise, não é hora de desacelerar – uma vez que descobriu reservas gigantescas de óleo leve e gás natural e não pode interromper um processo de aprendizagem que já custou alguns bilhões.

Só nos próximos cinco anos, serão aportados US$ 28,9 bilhões – dos US$ 111,4 bilhões programados até 2020 – para desenvolver as áreas do pré-sal da Bacia de Santos e do Espírito Santo. A produção prevista para os próximos cinco anos – de 219 mil barris por dia – servirá apenas de aprendizado. Nesse período cinco projetos serão colocados em operação – o teste de longa duração e o projeto-piloto da área de Tupi, no parque das Baleias, no campo de Baleia Azul e na acumulação de Guará. O grande volume de petróleo e gás extraído dos reservatórios pré-sal só começa a jorrar após 2014 – a meta da empresa é extrair, em 2020, 1,81 milhão de barris/dia do pré-sal.

Os recursos destinados à Área de Exploração & Produção mantiveram o peso (59% do valor) no plano de negócios. Ao todo, serão US$ 104,6 bilhões – US$ 92 bilhões somente no Brasil – destinados a cumprir a meta de elevar a produção para 2,68 milhões de barris/dia de óleo e 73 milhões de m³/dia de gás natural até 2013 – crescimento que reflete a entrada em operação de 13 novos sistemas de produção de óleo e gás no país.

Com mais gás

O plano de negócios reservou US$ 10,6 bilhões para a Área de Gás e Energia – majoritariamente para projetos de infra-estrutura logística, como a construção de 2.543 km de gasodutos e a instalação de estações de compressão, e terminais de GNL, que receberão US$ 8,2 bilhões. As projeções apontam, no final desse período, uma oferta própria de 73 milhões de m³/dia, que serão somados à importação de 30 milhões de m³/dia da Bolívia e 32 milhões de m³/dia de GNL.

Os técnicos da Área já estudam a construção de mais dois terminais de GNL no país – o primeiro já operando até 2013. A prioridade será atender a geração de energia elétrica mas, com a visão de se tornar um grande player no mercado de gás natural, os terminais podem servir para exportar o gás produzido que não for utilizado. Outro projeto em desenvolvimento é a planta de GNL onshore – ainda sem local definido – que poderia servir para estocar e dar suporte ao abastecimento do mercado interno ou para a exportação.

Para 2013, a Petrobras tem como meta atender uma demanda de 135 milhões m³/dia de gás natural.

Os investimentos no setor elétrico também serão reforçados: US$ 2,4 bilhões serão alocados na conclusão de cinco usinas termelétricas e cinco PCHs e na participação em novos negócios em energia elétrica, incluindo usinas eólicas.

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Refino acompanha produção

Para acompanhar o aumento da produção de petróleo, o novo plano de negócios antecipou o início das operações das duas refinarias Premium – a unidade do Maranhão terá capacidade total para processar metade dos 600 mil barris por dia no primeiro semestre de 2013, e a refinaria do Ceará entrará em operação no final de 2013 com 150 mil barris diários. “Já estamos dizendo há um bom tempo que não queremos nos tornar exportadores de petróleo, mas de derivados”, diz o diretor da Área de Abastecimento, Paulo Roberto Costa.

As duas unidades, somadas à Refinaria Abreu e Lima, ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e à Refinaria Clara Camarão – mais os revamps na Repar e na Replan – elevam a capacidade de refino da Petrobras para 2.270 mil barris por dia em 2013. Tanto em volume – o plano prevê que em 2013 o mercado doméstico esteja consumindo 2.257 mil barris por dia – quanto em ritmo de crescimento – a capacidade de produção crescerá 4,9% ao ano até 2013, enquanto a demanda cresce a 3% ao ano – será um crescimento superior ao projetado para o consumo de combustíveis.

Os empreendimentos receberão 73% dos US$ 47,8 bilhões destinados às atividades de refino, petroquímica e distribuição até 2013.
Com a operação das novas refinarias, a Petrobras deverá tornar país auto-suficiente na produção de diesel – ampliando dos atuais 738 mil para 1224 mil barris a produção diária em 2020.

Petrobras flex fuel

A maior novidade do plano de negócios da Petrobras foi o orçamento de US$ 2,8 bilhões para desenvolver o mercado de biocombustíveis. A Petrobras Biocombustíveis será responsável pelo destino de US$ 2,4 bilhões desse valor – o restante será destinado à construção de infraestrutura. A companhia reservou ainda US$ 530 milhões para pesquisas em biocombustíveis.

A companhia já estuda a aquisição de quatro novos projetos de produção de etanol – nas quais deterá participação de 40% – com o objetivo de produzir 1,9 bilhão de litros, que serão direcionados à exportação, e 1,8 bilhão de litros para o mercado interno. Fora do País, está sendo estudada uma unidade de produção de etanol na Colômbia.A produção de biodiesel deve crescer para 858 milhões de litros em 2013, com a construção de uma nova usina no norte do País, a duplicação da usina de Candeias / BA, a adaptação para produção comercial das usinas experimentais de Guamaré / RN e a implantação de unidades em Portugal e na África.

Ed. 312 - Jan/Fev de 2009
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Matéria exibida na Revista Petro & Química, edição 312 de Janeiro/Fevereiro de 2009.