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Edição 282 Março de 2006
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Para resistir à corrosão |
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Pesquisadores da UFC avaliam resistência à corrosão
de aços inoxidáveis em busca de alternativa para reparo
em torres de destilação que processam petróleos
pesados |
O uso de aço inoxidável superferrítico, desenvolvido
inicialmente com o objetivo de atender problemas relacionados à
corrosão na indústria açucareira, começa
a despertar o interesse do setor de petróleo e gás.
Uma pesquisa realizada por engenheiros ligados a Universidade Federal
do Ceará avaliou as características de resistência
à corrosão com três tipos de aços inoxidáveis
e apontou o aço superferrítico AISI 444 como uma alternativa
viável para aplicações em condições
de refino de petróleo.
A menor taxa de corrosão apresentada por este aço
pode representar um aumento no tempo de operação da
torre de destilação, aumento dos tempos entre as paradas
para manutenção e maior confiabilidade do equipamento,
conduzindo a uma redução dos custos tanto associados
à parada da unidade, quanto de manutenção propriamente
dito, aumento da segurança operacional e preservação
do meio ambiente, explica o engenheiro mecânico Cleiton
Carvalho Silva, mestrando em engenharia e ciência dos materiais,
que trabalhou no projeto de pesquisa.
A pesquisa vencedora da versão 2005 do Prêmio
Petrobras de Tecnologia avaliou principalmente o efeito da
soldagem sobre as características metalúrgicas, com
foco especial sobre a resistência à corrosão dos
aços inoxidáveis AISI 410S, AISI 316L empregados
no revestimento de equipamentos nas unidades de processamento de petróleo
e do aço AISI 444 como alternativa no reparo de torres
de destilação, em substituição aos aços
utilizados, especialmente em condições de elevada acidez.
Amostras dos aços com e sem solda foram submetidas
a tratamentos térmicos imersas em petróleo pesado
por um período de 30 horas, em dois níveis de temperatura
(200ºC e 300°C). Em todas as condições avaliadas,
o aço inoxidável AISI 444 foi o metal de base que obteve
a menor taxa de corrosão por perda de massa.
Aliado ao melhor desempenho, os aços inoxidáveis ferríticos
também resultam em uma maior economia já que
são mais baratos quando comparados aos austeníticos.
Entretanto, questões de caráter metalúrgico
como possível fragilização e a sua soldabilidade
devem ser analisadas em conjunto. Novas pesquisas estão
sendo desenvolvidas na Universidade Federal do Ceará, visando
melhorar as características deste material através da
alteração nos teores de cromo e molibdênio, cujo
objetivo principal é obter uma nova liga mais resistente à
corrosão e menos suscetível a problemas de fragilização.
O processo de corrosão em torres de destilação
Torres de destilação inicialmente projetadas para processar
petróleos leves com baixo índice de acidez
começam agora a se deparar com a necessidade de processar petróleos
pesados com alto índice de acidez. A presença
dessas substâncias corrosivas HCl, ácidos naftênicos,
enxofre e H2S associada às elevadas temperaturas de
operação, ativa o processo de corrosão. A
temperatura elevada favorece a formação de diversos
ácidos, especialmente os ácidos naftênicos, que
ao entrarem em contato com a superfície metálica, iniciam
um intenso processo de corrosão do material, esclarece
o professor Jesualdo Pereira Farias, titular do Departamento de Engenharia
Metalúrgica e de Materiais da UFC.
As refinarias da Petrobras já trabalham com equipamentos revestidos
com aços inoxidáveis AISI 316L (austenítico)
e AISI 410S (ferrítico). A utilização do aço
AISI 444 está sendo estudada especificamente para ser aplicado
como revestimento de torres de destilação de petróleo.
Sua aplicação em outros equipamentos pode ser viável
dependendo das características de operação do
equipamento, como temperatura de operação e fluidos
processados embora seja necessária a realização
de outras análises específicas.
Dentre as principais características do aço AISI 444
destacam-se o teor de cromo de 17%, adição de 2% de
molibdênio, baixos níveis de elementos intersticiais
como carbono e nitrogênio e adição
de elementos estabilizadores como o nióbio e titânio
para evitar a formação de carbonetos e nitretos
de cromo, que são responsáveis pela suscetibilidade
à corrosão intergranular. Este aço foi lançado
no Brasil em 2001, inicialmente com o objetivo de atender a demanda
da indústria açucareira. Suas excelentes características
de resistência à corrosão e corrosão sob-tensão
despertaram o interesse de outros setores, motivando o estudo sobre
a viabilidade de aplicação para o setor petróleo
e gás.
O revestimento
O revestimento interno de equipamentos com aços inoxidáveis
é comum em equipamentos na indústria do petróleo,
dada à agressividade dos meios e as severas condições
de serviço. Em geral, três formas de revestimento podem
ser encontradas, o clad, o lining, e o overlay.
No caso do revestimento de torres de destilação
em clad o aço estrutural é revestido com aço
inoxidável, normalmente através de processos como soldagem
por explosão, dando origem a uma chapa bimetálica que
será usada na fabricação do equipamento.
Em equipamentos com grandes dimensões como no caso das
torres de destilação, o clad é o revestimento
mais comum na construção e o lining é a técnica
mais usada no reparo, conta Cleiton Silva.
Em se tratando da relação custo x benefício,
os aços inoxidáveis são, em muitos casos, a melhor
opção para revestimentos de equipamentos. Ligas de níquel
(monel, inconel e hasteloy) ou outras não-ferrosas, apresentam-se
como alternativa de revestimento. A desvantagem é que, além
de serem de custo elevado, as ligas de níquel apresentam ainda
baixa resistência ao ataque pelo H2S. Outros materiais que apresentam
boa resistência à corrosão naftênica são
as ligas de alumínio e de nióbio.
Os aços inoxidáveis austeníticos conhecidos por
série 300 são disparados os aços inoxidáveis
mais comercializados em todo o mundo. Alguns austeníticos,
como o AISI 316 e 317, têm sido apontados como os de melhor
desempenho em aplicações nas unidades de refino, principalmente
devido à presença do molibdênio em teor suficiente
para aumentar a resistência ao ataque dos ácidos naftênicos
embora, na prática, problemas relacionados à
corrosão sob-tensão têm sido relatados. Outros
aços inoxidáveis austeníticos como os AISI 304,
321 e 347, também têm sido empregados.
Os aços inoxidáveis ferríticos utilizados em
revestimentos AISI 403, AISI 405 e o AISI 410S não
vêm apresentando desempenho satisfatório nas condições
atuais de processamento de petróleo. As causas para este baixo
desempenho podem ser o baixo teor de cromo (em média 13%) e
a ausência de molibdênio.
Neste contexto, o aço inoxidável superferrítico
AISI 444, que contem maior teor de cromo e adição de
molibdênio comparado aos ferríticos, surge como alternativa
para aplicações em revestimento, em substituição
aos aços austeníticos.
Os aços inoxidáveis ferríticos, de uma
forma geral, são mais baratos que os austeníticos por
apresentarem em sua composição química teores
de níquel muito baixo. Além disso, o aço inoxidável
AISI 444 tem produção nacional o que elimina a necessidade
de importação, observa o engenheiro químico
Hosiberto Batista de SantAna, professor adjunto do Departamento
de Engenharia Química da UFC. |
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