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Edição 293 • 2007
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ULTRA negócio |
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Grubisich, Gabrielli e Wongtschowski: Ipiranga |
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Petrobras, Braskem e Ultra destrincham os ativos da Ipiranga em negócio de US$ 4 bilhões e desatam mais um nó da petroquímica nacional
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Numa das maiores aquisições corporativas já realizadas no Brasil, a Petrobras matou quatro coelhos com uma cajadada só: ampliou seus negócios nos segmentos de petroquímica e de distribuição, desatou mais um nó que dificultava a consolidação da indústria petroquímica brasileira, e fechou com final feliz a história de 70 anos do Grupo Ipiranga. De quebra, protegeu a indústria nacional de uma ofensiva externa, como destacava o slogan “O Brasil investindo no Brasil” durante e depois do anúncio da operação.
A Petrobras sabia de todos os riscos envolvendo o negócio até mesmo das inevitáveis discussões sobre concentração de mercado. Mas não podia deixar passar a oportunidade. Com a operação consolidada, está aberto o caminho para a integração dos ativos do pólo petroquímico de Triunfo / RS à semelhança do que foi feito no pólo de Camaçari / BA, quando foi criada a Braskem. “O negócio permite a eliminação de entraves para a formação de grandes grupos nacionais”, comemorava o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.
A operação foi fechada em US$ 4 bilhões e repartirá os ativos do Grupo Ipiranga entre as três empresas a Petrobras divide com o Ultra a rede de distribuição de combustíveis e com a Braskem os ativos petroquímicos. Os efeitos do negócio, no entanto, vão muito além da simples troca de comando: ao se tornarem os únicos sócios da Copesul, Petrobras e Braskem dão um importante passo rumo à reestruturação da petroquímica brasileira tão importante quanto o processo de criação da Braskem.
Mas, como na física, também no mundo corporativo toda ação é seguida de uma reação. A Petrobras agora tem outro problema para resolver: o que fazer por Suzano e Unipar? A última coisa que a companhia quer é ser acusada de madrinha de um único grupo privado, por isso a próxima carga estará voltada para a formação do Pólo do Sudeste. “Já estamos discutindo isso com Suzano e Unipar”, disse o diretor da Área de Abastecimento da companhia, Paulo Roberto Costa.
A decisão de se desfazer dos ativos começou a ganhar força entre as famílias detentoras do Grupo Ipiranga Telechea, Gouvêa Vieira, Mello, Ormazabal e Martins Bastos em 1999. No ano 2000, o Chase Manhattan montou um data-room em Nova York, com o Grupo avaliado em mais de US$ 3 bilhões. De lá para cá, grupos brasileiros e estrangeiros, como RepsolYPF e a própria Petrobras e mais recentemente a PDVSA avaliaram o negócio, e a especulação sobre o destino da Ipiranga virou assunto corrente nas bolsas de apostas acerca do futuro do setor.
Como o valor de mercado da empresa poderia ser mais interessante do que os dividendos gerados na operação, a venda não encontrava grande resistência entre os herdeiros. “As metodologias de avaliação tanto do patrimônio quanto do negócio foram empregadas por empresas com alto grau de profissionalismo”, pondera o consultor Roberto Villa ao considerar justo o valor pago pelo negócio.
Apesar da novela se arrastar por vários anos, seu desfecho apanhou muita gente de surpresa. Foram sete meses de negociações sigilosas. Nos bastidores dessa história, o consultor Pércio de Souza, da Estáter, teve uma atuação tão significativa que, nas apresentações feitas a jornalistas e investidores, mereceu lugar privilegiado entre os três presidentes dos grupos envolvidos no negócio só não saiu na foto, mas encabeçou todas as apresentações feitas após o fechamento da aquisição.
Junto com o empresário Paulo Cunha que há anos buscava um negócio que multiplicasse o tamanho do Grupo Ultra começou as tratativas junto ao Banco Pátria que, contratado pela Ipiranga para desenhar uma nova estrutura organizacional, ganhou procuração para negociar em nome da empresa. Uma pretendente natural seria a Petrobras por todos os motivos expostos lá no primeiro parágrafo dessa reportagem. As conversas foram se desenvolvendo até que a Braskem apareceu no caminho em caso de alienação dos ativos da Ipiranga na Copesul, ela teria direito de preferência. |
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Em 48 horas, a cartada decisiva
Na sexta-feira, 16 de março, o Conselho de Administração da Petrobras presidido pela ministra Dilma Rousseff aprovou a compra, e a proposta bilionária foi apresentada aos controladores da Ipiranga. Começava a maratona para os principais executivos de Petrobras, Braskem e Ultra que passaram aquele final de semana trancados em reuniões até a conclusão do negócio. Na manhã da segunda, 19, os contratos eram assinados: a aquisição da Ipiranga, de “porteira fechada”, por US$ 4 bilhões. “O descruzamento do negócio é complexo. A estrutura que encontramos para viabilizar foi o acordo de investimentos”, explicou Pérsio.
O negócio significou o maior salto da história do Ultra, que ficará com 75% da segunda distribuidora de combustíveis do país ou 3.360 postos de combustíveis espalhados pelas regiões Sul e Sudeste, mais a marca Ipiranga e todas as subsidiárias da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga, como a Emca. Em troca, emitirá ações preferenciais da Ultrapar. “Passaremos de um faturamento de R$ 5 bilhões para R$ 24 bilhões”, comemorava o presidente do Grupo, Pedro Wongtschowski.
A Petrobras aportou US$ 1,1 bilhão para ficar com 40% da área petroquímica, 833 postos da Ipiranga nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste podendo usar a bandeira por até cinco anos e a Ipiranga Asfaltos. A Braskem irá captar no mercado US$ 1,3 bilhão para ficar com 60% da petroquímica. Ninguém ficou com a Refinaria Ipiranga integralmente e a unidade será dividida e administrada em partes iguais entre as três empresas.
As conseqüências da operação vislumbram o futuro do setor petroquímico nacional pelo menos da forma como planeja a gestão de Gabrielli: a Petrobras com participações significativas, mesmo que minoritárias, em empresas integradas, como já é no pólo de Camaçari e na Riopol, e como deverá se configurar o pólo de Triunfo. “Esta nova etapa da consolidação do setor petroquímico traz um potencial importante de crescimento para a Braskem”, avalia o presidente da empresa, José Carlos Grubisich.
Antes disso, a operação precisa ser aprovada pelas autoridades de defesa da concorrência: o Conselho Administrativo de Defesa Econômica Cade e as Secretarias de Acompanhamento Econômico Seae, do Ministério da Fazenda, e de Direito Econômico SDE. Com esta operação, a Braskem aumenta ainda mais a sua participação no mercado de polipropileno agora só tem a Suzano Petroquímica como concorrente e de polietilenos onde briga com a Suzano, a Unipar e a própria Petrobras.
Grubisich se mostra tranqüilo quanto ao desfecho do processo. “Todas as avaliações mostraram que o mercado relevante é o mercado internacional”.
Operação em cinco etapas
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A operação começa com a aquisição das ações das famílias controladoras do Grupo Ipiranga pelo Grupo Ultra. Em seguida o Grupo Ultra fará uma oferta pública de compra das ações ordinárias em poder dos acionistas minoritários do Grupo Ipiranga.
Na terceira etapa, Braskem e Petrobras farão proposta aos acionistas para fechamento do capital da Copesul. Na quarta etapa, o Grupo Ultra fará uma incorporação de ações preferenciais em poder dos minoritários da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga, da Distribuidora de Produtos de Petróleo Ipiranga e da Refinaria de Petróleo Ipiranga, que receberão ações preferenciais da Ultrapar.
Na quinta e última etapa, será feita a alienação e entrega dos ativos petroquímicos para Braskem e Petrobras. E o setor petroquímico brasileiro nunca mais será o mesmo. |
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