Notícias online — Setembro de 2001

Rio de Janeiro, 25 de setembro de 2001

Senador diz que ANP é irresponsável e quer suspensão de novas licitações

Um dos principais nomes do processo de cassação dos senadores Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda, o senador Saturnino Braga (PSB/RJ), apresentou em no último mês de junho, no Senado Federal, projeto de lei que pretende suspender as licitações de novas áreas para exploração de petróleo no país, como a quer aconteceu recentemente promovida pela ANP. Aliás, a conceituação que o senador tem da Agência Nacional de Petróleo não é das melhores. Saturnino classifica a agência de irresponsável e diz que as empresas que adquiriram áreas na terceira rodada são aproveitadores. O discurso do senador é, segundo ele, um alerta pois a legislação em vigor permite que o petróleo descoberto por um concessionário, depois de retirado do subsolo, pertence a ele.
O Projeto de Lei nº 099/01, apresentado pelo senador pede a alteração da lei 9.478, de 1997, que dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relacionadas ao monopólio do petróleo, e instituiu o Conselho Nacional de Política energética e a Agência Nacional do Petróleo. Nesta entrevista exclusiva ao Clube do Petróleo & Gás, o senador reage à forma como vem sendo conduzida a abertura do setor de Oil&Gas pela ANP e diz que, no futuro, a agência poderá ser responsabilizada pelos seus atos.

Clube do Petróleo & Gás - Qual a sua argumentação para o pedido de suspensão às licitações de novas áreas para a exploração de petróleo?
Senador Saturnino Braga: A decisão sobre a promoção de licitações não está respaldada por um planejamento energético estratégico do País. O Conselho Nacional de Política Energética - CNPE, instituído também pela Lei nº 9.478/97, com a incumbência de realizar tal planejamento, nunca o realizou. Não existe estudo do Ministério das Minas e Energia ratificando o formato através do qual as licitações estão sendo conduzidas. Esta questão não tem sido motivo de debate tampouco no Congresso Nacional. A pergunta óbvia é qual o interesse para a sociedade brasileira de se fecharem contratos, hoje, que irão valer pelos próximos 30 anos, refletindo as condições atuais do setor, se não existe um planejamento para o futuro. Detalhando, diversos parâmetros dos contratos, como as participações governamentais, quais sejam, royalties, participações especiais e outros tributos, foram definidos na época da 1ª licitação, quando o barril do petróleo estava com preço em torno de US$13. Atualmente, já vale US$25 e há previsão de estar valendo bem mais daqui a 30 anos. Estas participações governamentais são, desde o primeiro contrato assinado, de cerca de 45% da receita líquida da produção de petróleo e gás, o que já é questionável, uma vez que a média mundial para os diversos países, atualmente, está em torno de 65%, sendo que Venezuela, Colômbia e Noruega cobram mais de 80% (Fonte: revista "Ciência Hoje" de julho de 2000, encarte "Technologia"). É natural que, com o aumento do preço do barril, haja uma tendência para o aumento deste percentual, o que não poderá ser feito com os contratos já assinados.
Um dos argumentos ditos para justificar a pressa em licitar áreas para exploração e produção é a necessidade do País de atingir a auto-suficiência em petróleo. Em primeiro lugar, esta é uma meta que foi lançada na época em que o segundo choque de preço do petróleo tinha acabado de ocorrer, quando a produção nacional correspondia a um terço do consumo do País. Hoje, ela é cerca de 75% do que consumimos. A PETROBRÁS, graças ao esforço de exploração exercido durante a fase de monopólio, garantirá que, nos próximos quatro anos, a auto-suficiência seja atingida. Assim, qualquer descoberta adicional colocará o Brasil como exportador de petróleo, o que é muito diferente, e não foi discutido com a sociedade.

Clube do Petróleo & Gás - O senhor acha que a ANP está sendo entreguista?
Senador: Acho que está sendo principalmente irresponsável, querendo mostrar serviço, apresentar resultados aparentemente bons em termos de crescimento da produção do petróleo sem considerar as conseqüências em longo prazo.

Clube do Petróleo & Gás - Há, na sua opinião, vinculação com compromissos assumidos com o FMI para a entrega dos campos de petróleo no país?
Senador: Tenho convicção de que há, sim, compromisso como o FMI em busca de dois objetivos: obter reais e dólares nas licitações das áreas para fins fiscais e pagamentos internacionais, e aumentar a produção brasileira de petróleo para gerar divisas e conter elevações nos preços internacionais.

Clube do Petróleo & Gás - O senhor vê a possibilidade de responsabilizar criminalmente a ANP por este processo?
Senador: Não é fácil, na medida em que a ANP tem autorização legal para fazer essas licitações.Acho que, no futuro, a direção da ANP pode ser responsabilizada por desídia, diante das conseqüências apuradas. Clube do Petróleo & Gás - Como o senhor viu a última rodada de licitação, a mais rentável das três ocorridas? Senador: Vi como uma grande vitória dos aproveitadores da irresponsabilidade da ANP.

Clube do Petróleo & Gás - O senhor não considera um retrocesso, neste momento, barrar as licitações?
Senador: De maneira nenhuma; é uma atitude minimamente previdente, precaução que não houve, por exemplo, no setor de energia elétrica. A suspensão é temporária, até que o planejamento de longo prazo seja feito pelo Conselho de Política Energética. Clube do Petróleo & Gás - Quais são os riscos da atual legislação em vigor? Senador: Vender todas as áreas mais promissoras de petróleo sob condições pouco favoráveis que prevalecerão por 30 anos.

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